quarta-feira, 17 de março de 2021

O QUE A PANDEMIA DA COVID-19 PODE NOS ENSINAR?

Psicólogo convida para uma reflexão a respeito dos efeitos do novo coronavírus no Brasil e no mundo.


A vida do ser humano passou por obrigatórias transformações devido a pandemia do novo coronavírus, propiciando um convite para avaliar o que é necessário, essencial e supérfluo. Vários são os materiais científicos abordando do que o vírus pode causar na vida das pessoas. Será que estas aprenderam ou cresceram internamente com a chegada da pandemia? Será que todos passaram pela mesma experiência desse momento pandêmico? Muitas crianças, jovens, adultos e idosos ficaram preocupados; outros não. Isso porque o ser humano vivencia sua singularidade, ou seja, cada pessoa é única e intransferível, interpretando de diferentes formas determinados acontecimentos. Será que o novo coronavírus trouxe somente pontos negativos para a vida do ser humano? Há algo que possa ser construtivo, de aprendizado e de transformação?

Reportagens televisivas constantes, protocolos, testagens de diversas vacinas, orientações de diferentes órgãos mundiais, federais, estaduais e municipais quase diários sobre a pandemia fizeram muitas pessoas desenvolverem sintomas físicos e psicológicos, repercutindo numa série de mudanças no estilo de vida, como no trabalho, na escola, no dormir, no consumir e tantas outras esferas. Assim, notou-se, que além de cuidar do campo físico, o emocional tornou-se peça principal: debates e sintomas de assuntos variados, como dificuldades com sono, ansiedade, humor deprimido apareceram com maior frequência, também sugerindo que o ser humano se conectasse para dentro de si. Aliás, conexão é um fator importante: as pessoas notaram que os telefones celulares são importantes e que aproximam umas a outras, mas que as relações com o outro ainda pedem o contexto da moda antiga: o famoso “olho no olho”. Pessoas idosas adentraram nas redes sociais, aprendendo a mexer em aplicativos de mensagens, chamadas de vídeo e demais funções. Já os jovens cansaram de usar telefones celulares por tantos meses, querendo ver seus amigos e colegas presencialmente.   

          A família é um ponto de reflexão crucial: o cuidar, o brincar e o ensinar dos filhos, independentemente da idade destes – crianças ou jovens precisou ser repensado. Como ficou sua relação e seu tempo com o seu filho em tempos pandêmicos? Será que antes você trocava a presença pelo presente? O ensino remoto – que não é igual ao professor em sala de aula (aliás, os docentes também necessitam ser mais valorizados, pois o ensinar de forma virtual ou semipresencial é tarefa árdua) -, precisou ser introduzido e observar que o ‘ideal’ estava distante do ‘possível’. Muitos pais que estudaram até o quarto ano do ensino primário (nomenclatura antiga) obtiveram dificuldades em poder ajudar sua prole. Um convite para estes pais voltarem a aprender.

Na alimentação, durante o período de maior restrição social, as pessoas foram convidadas a verificar quais eram os alimentos que costumeiramente entram em suas residências. Foram convidadas ainda, analisar o que era consumido nas principais refeições, além de aprender a comer corretamente para ter uma melhor qualidade de vida, garantindo um possível fortalecimento do sistema imunológico. A melhor higienização dos alimentos também necessitou ser melhor realizada, garantindo maior segurança para o lar.  Ponto positivo para as pessoas que dividiam o pouco que tinham com aqueles que não tinham absolutamente nada. Pergunte-se: o que você tem em casa, é possível doar para o outro? Há necessidade de ter tudo que está no seu guarda-roupa ou despensa?

Alguns casais – independentemente da formação destes -, puderam repensar sua vida a dois, dando novas condutas para a relação: aprender a respeitar o outro, convidá-lo a fazer novos programas a dois dentro de sua própria casa (as famosas lives das redes sociais), bem como avaliar diversos pontos positivos e negativos da questão relacional. Na parte da sexualidade, foi possível inovar no sexo, buscando novas fontes de estímulo e fantasias, pois além disso o ato sexual pode ser relaxante para a pessoa. Para os solteiros, foi necessário reinventar suas formas de flertar e paquerar, utilizando ainda mais as redes sociais.  

Do caos ocorrido na saúde pública brasileira, teremos a valorização de diversas categorias profissionais, em especial na área de saúde? Cuidarão dos profissionais de linha de frente, em especial nas questões emocionais? Será que haverá políticas (claro que efetivas) para remuneração financeira, em especial para os técnicos de enfermagem, enfermeiros, entre tantos outros profissionais de linha de frente, incluindo profissionais na área de limpeza?

É evidente que ocorrem experiências negativas e dolorosas na pandemia da covid-19, como a perda de pessoas e o enlutamento de diversas famílias. Nesse momento o ser humano pode conceder seu colo, o seu afeto e sua escuta: isso traduz o que pode ter de melhor dentro de si, como a empatia, compreendida como a capacidade de se colocar no lugar do outro.

Diversos podem ser os exemplos reflexivos que a pandemia nos concede. Pode-se dizer, portanto, que o que era supérfluo precisou ser deixado de lado, aprender a aprender, conviver com o pouco, com o mínimo. Em suma: se cada ser humano é único, o que VOCÊ aprendeu com a pandemia da covid-19?

 Marcos Felipe Chiaretto é Psicólogo (CRP: 06/103721), Especialista em Saúde Mental e Psiquiatria, Especialista na área de Psicologia do Trânsito/Avaliação Psicológica e Mestrando em Educação Sexual. Atua nos municípios de Descalvado e Porto Ferreira/SP e Coordena a Pós-Graduação da Unicep em Saúde Mental.


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